A meta é monitorar em tempo real a localização e o status de 30 mil a 40 mil contêineres por ano de qualquer companhia de navegação.
A Inteligência Artificial (IA) para monitorar em tempo real cargas marítimas, entra em operação neste mês, após estudos para interpretar informações das companhias de navegação, de terminais portuários, de autoridades alfandegárias, dados de localização via satélite, da internet e de serviços de rastreamento independentes, consolidados na plataforma da empresa portuguesa Rangel Logistic Services que implementou o sistema Rangel Track & Trace.
Especialmente em situações inesperadas como transbordos não programados para navios de outras companhias, alterações de rotas, cancelamentos, filas de espera em portos e bloqueios de rotas marítimas.
“A realidade é que o transporte marítimo ainda é um negócio bastante analógico.
Muitas companhias atualizam suas bases de dados manualmente.
Há grande delay [atraso] nas informações, e os dados disponíveis não costumam refletir a realidade do que está acontecendo como a carga”, afirma Enrique Garcia, diretor de desenvolvimento de negócios na América Latina.
A partir de recursos de big data, a IA da Rangel acessa logo após a emissão e organiza dados esparsos e sem padronização dos manifestos de cargas de 60 companhias responsáveis por mais de 90% do tráfego marítimo global.
O sistema também acessa as informações de antenas presentes na quase totalidade dos terminais de contêineres mundo afora, que identificam com exatidão a partida e chegada de navios.
A IA da Rangel conversa ainda com os sistemas dos terminais de contêineres para obter dados precisos sobre a movimentação de cargas individuais.
Também agrega informações de localização via satélite sobre o trajeto de navios em alto mar, além de acompanhar as atualizações das próprias empresas de navegação.
Garcia explica que o sistema coleta, compara, confere e interpreta esses dados todos para oferecer informação precisa e em tempo real sobre a localização e, principalmente, sobre o status da carga nos terminais, que hoje é o grande gargalo do monitoramento.
Segundo ele, as informações são disponibilizadas em sequências padronizadas com dados agregados e personalizados em links acessíveis do computador ou celular.
Nos próximos meses, a IA será integrada aos demais sistemas de rastreamento que a Rangel usa em outros modais.
Os dados da IA também serão incorporados no portal My Rangel, de relacionamento com o cliente.
O executivo destaca que o principal benefício do sistema é dar informações precisas sobre o paradeiro de cargas, especialmente em situações imprevistas, permitindo a busca rápida por uma alternativa logística.
Se estivesse operando no mês passado, quando o Ever Given encalhou no Canal de Suez, a inteligência poderia ter identificado o bloqueio no momento em que aconteceu.
“Saberíamos ainda que navios decidiram esperar no canal ou dar a volta na África, onde exatamente está um dado contêiner, se num navio parado no canal, ou num terminal à espera do embarque e, ainda, o nome do próximo navio disponível e a estimativa de atraso de entrega, tudo de forma imediata.
Nem as companhias marítimas conseguem oferecer dados com essa precisão”, exemplifica Garcia.
Outro benefício é a possibilidade de minimizar atrasos e custos não cobertos pelas atuais apólices de seguro marítimo com detention e demurrage (taxas aplicadas quando os prazos de estadias de contêineres são excedidos no destino ou na origem) gerados por imprevistos, como, por exemplo, os frequentes congestionamentos no Porto de Santos.
Segundo Garcia, a inteligência artificial é capaz de antever essas situações.
No caso das saídas, poderia auxiliar na decisão de usar o próximo porto ou o navio da semana seguinte.
Nas chegadas, dá para saber com até quatro dias de antecedência se um dado navio vai ou não atracar no porto anunciado, permitindo o remanejo da carga com o menor custo e transtorno, com a rota mais conveniente segundo as previsões da IA.
“Muitas vezes o preço não é a questão, mas, sim, a rota mais confiável”, afirma.
A IA também funciona como uma camada de segurança extra para casos como o hackeamento dos sistemas da CMA-CGM no ano passado, a invasão dos computadores da Maersk há três anos e a falência da Hanjin há cinco anos.
Essas situações deixaram milhares de donos de carga sem informação, e vários contêineres ficaram por todo mundo sem paradeiro por meses.
Fonte: iPnews