O sistema de produção visa menor impacto ambiental com policultura e condições de recuperação do solo.
Foto: Reprodução/RPC |
g1 - A agricultura regenerativa é uma nova modalidade que vem ganhando adeptos no Paraná, na busca crescente por sistemas de produção mais sustentáveis pela preocupação com o meio ambiente.
A proposta é ir além de aplicar práticas de cultivo que agridam menos o ambiente e o mantenham como está, com um trabalho para regenerar e recuperar a biodiversidade e as capacidades naturais dos locais usados para a agricultura.
Uma chácara perto da área urbana de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, está entre as aderentes ao sistema.
Três mil dos 170 mil metros quadrados da propriedade são usados para o cultivo agroecológico, com espaços onde diferentes tipos de capim crescem naturalmente perto de plantações de grãos e outros alimentos. Em pouco tempo, a diversidade de plantas que brotam da terra está maior.
“Essa é uma área onde simplesmente fazemos roçadas contínuas e a biomassa daqui ainda serve de doação para outras áreas. Hoje, no metro quadrado, temos cerca de 12 a 15 espécies de plantas,” explica o proprietário, Silvério.
Um dos requisitos para se alcançar uma agricultura regenerativa e mais ecológica é aumentar o policultivo até se alcançar a diversidade em um padrão natural, quase florestal. “Por isso a agrofloresta é tão interessante e se encaixa nesse manejo”, diz.
Conciliar agropecuária com extração adequada das florestas e diminuir as monoculturas são passos para regenerar, especialmente, as condições do solo. Isso melhora a retenção de umidade e a infiltração da água na terra, favorecendo a manutenção de nascentes, por exemplo.
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Outro fator essencial é deixar de lado o uso de defensivos e fertilizantes químicos, como explica Joel Queiroga, pesquisador em agroecologia da Embrapa Meio Ambiente.
“Em uma analogia, a agricultura regenerativa estaria em um primeiro passo caminhando para a redução do uso de produtos químicos, agrotóxicos, insumos artificiais e sintéticos, para a substituição”.
Segundo Queiroga, essa modalidade não apenas contribui para a saúde do solo, mas também para a saúde do alimento, do agricultor e do consumidor.
Na regeneração de áreas agricultáveis, quanto mais policultura, melhor. A ideia é causar um impacto positivo ambiental, social e economicamente.
É por isso que, em uma propriedade como a de Silvério, em poucos passos se atravessam áreas com diferentes variedades de couve, repolho, berinjela e outras hortaliças.
Com pouco mais de quatro décadas de existência no debate internacional, a agricultura regenerativa vem ganhando espaço no Brasil na esteira de sistemas de produção como o orgânico, que não utiliza defensivos químicos; o biodinâmico, no qual a agricultura é relacionada a elementos de astronomia, filosofia e espiritualidade; e o agroecológico, que combina práticas orgânicas com preocupações sociais e ambientais.
A proposta chamou atenção também de um casal que, após sete anos na Europa, voltou ao Brasil e hoje conduz testes de cultivo agroecológico em uma chácara em São José dos Pinhais. Por lá, 68% da área de 11 hectares são ocupados por mata nativa.
“Nós fizemos uma análise de solo que mostrou que já daria para fazer alguns cultivos. Plantamos 16 variedades de hortaliças; algumas vieram bem, como a couve-manteiga, cebolinha, folhas, alface crespa, alface lisa, e outras não vieram tão bem”, diz Alexandre Tramontin, produtor rural que antes trabalhava como engenheiro de telecomunicações.
Em breve, um galinheiro portátil também deve começar a funcionar. Com o piso feito com telas, a ideia é que os dejetos das aves caiam diretamente sobre o solo para servir de adubo natural.
“Gostaríamos de usar a propriedade como um modelo para quem quiser realmente aprender e ver que esse tipo de agricultura dá certo e é o único caminho que temos para conseguir regenerar esse planeta que estamos destruindo muito mais rápido do que se imaginava”, disse o produtor.