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  • Navio naufragado há 2,5 mil anos será resgatado na Península Ibérica

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    Imagem: Jose A Moya / Regional Government of Murcia

    A embarcação corre o risco de ser destruída por tempestade ou suas próprias estruturas. Arqueólogos da Universidade de Valência, na Espanha, correm contra o tempo para salvá-la.

    Há 2,5 mil anos, uma embarcação fenícia afundou na costa da Espanha. Arqueólogos do país recentemente renderizaram as imagens do navio em mapas de alta resolução em 3D. Essa é uma das etapas iniciais de um grande plano: salvar o navio antes de uma tempestade que pode destruí-lo por completo.

    Esse processo está sendo conduzido por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Arqueologia Náutica da Universidade de Valência, que criou mapas 3D para entender melhor quais são as condições atuais do barco afundado.

    Mazar

    A embarcação de 8 metros de comprimento está 1,7 metro abaixo da superfície no Mar Mediterrâneo e a 60 metros de distância da praia de La Isla de Mazarrón, na Península Ibérica.

    Antes de ser Mazarrón, o local era um povoado fenício chamado Mazar. Por conta do porto, a região atraía o comércio marítimo e trocas culturais. Os navios fenícios chegavam a Mazar cheios de cerâmicas luxuosas e produtos de metal. Com o passar do tempo, o povoado se tornou um centro de comércio, onde havia a venda e compra de artefatos de lugares distantes.

    O navio foi batizado de Mazarrón II, em homenagem à região onde foi descoberto há três décadas. Em entrevista à agência de notícias Reuters, o arqueólogo Carlos de Juan, líder do projeto e pesquisador da Universidade de Valência, contou que, para mapear todos os cantos e fissuras da embarcação, foram necessárias mais de 560 horas de mergulho.

    Com base nos mapas, os arqueólogos estão planejando o resgate do Mazarrón II. Estima-se que os pedaços do navio tenham que ser retirados um a um, uma extração de seções usando as rachaduras e tentar reconstruí-lo quando estiver em terra.

    A embarcação é frágil e está rodeada por bolsas de areia e uma estrutura de metal que a protege. O casco dela está afundando rapidamente, ameaçando destruir a estrutura protetiva.

    No momento, sempre que uma tempestade chega à região, a equipe de Carlos de Juan fica ansiosa. Além disso, as construções modernas na costa afetaram a forma como o mar flui em torno dessa parte da Península Ibérica.

    Esses são alguns dos motivos pelos quais os estudiosos têm pressa de recuperar o barco. A expectativa é de que o resgate ocorra até o verão de 2024.

    Fonte: Revista Galileu



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    Como funciona o maior e mais inteligente porto do mundo?

    Porto-Ningbo-Zhoushan
    Imagem: Suo Xianglu/Xinhua


    Com 1,25 bilhão de toneladas de cargas movimentadas por ano e área equivalente a 1,26 milhão de campos de futebol, o Porto de Ningbo-Zhoushan, situado na costa leste da China, movimenta o maior volume de mercadorias do mundo (em termos de toneladas).

    O complexo gigante tem papel indispensável no funcionamento da cadeia industrial de comércio exterior e de suprimentos da China.

    Com a aplicação do controle remoto de guindastes e a operação simultânea de caminhões não tripulados, realizados por comunicação 5G, a logística do gigante portuário torna-se cada dia mais inteligente e eficiente, entrando na elite dos portos internacionais.

    Como funciona, por dentro, o Porto de Ningbo-Zhoushan? Veja no vídeo abaixo:

    Fonte: Portuguese Cri CN




    Novo estudo desvenda por que geleiras na Antártida 'sangram'

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    Imagem: Flickr / Ariel Waldman

    Descobertas em 1911, as misteriosas "Cachoeiras Sangrentas" geram muitos debates e pesquisas.

    Durante a Expedição Terra Nova para a Antártida, em 1911, o geólogo Thomas Griffith Taylor descobriu um fenômeno desde então conhecido como "Cachoeiras de Sangue". O nome resume bem: a água surge debaixo da geleira, emerge transparente e logo fica vermelha.

    Um estudo publicado na revista científica Frontiers in Astronomy and Space Science usa uma nova abordagem para explicar como o evento acontece.

    O cientista Ken Livi, do Departamento de Materiais, Ciência e Engenharia da Escola Whiting, usou os microscópios de transmissão de elétrons da instituição de Caracterização de Materiais e Processamento da Universidade Johns Hopkins (EUA) para examinar os sólidos de amostras da água das Cachoeiras de Sangue.

    Livi detectou uma grande quantidade de pequenas nanoesferas ricas em ferro que oxidam, deixando a água avermelhada. Essas partículas são pequenos objetos arredondados, cem vezes menor que uma célula de sangue humana, que possuem características físicas e químicas únicas.

    "Assim que eu vi as imagens do microscópio, percebi que haviam essas pequenas nanoesferas que eram ricas em ferro, e que têm vários outros elementos além dele, silicone, cálcio, alumínio, sódio e todos variam", afirma Ken Livi em comunicado.

    O pesquisador explica que a natureza das nanoesferas identificadas não foi detectada antes porque elas são minúsculas, e também porque estudos anteriores sugeriam que algum tipo de mineral estava causando o "sangramento" e as nanoesferas não são minerais.

    Fonte: Revista Galileu


    Estudo mostra que borboletas coexistiram com dinossauros

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    Imagem: Getty Images


    Segundo a descoberta, os insetos teriam surgido há 100 milhões de anos na América e se alimentavam de leguminosas.

    Depois de roer as folhas de uma planta da família do feijão, a lagarta forma uma pupa na qual se desenvolverá em borboleta. É uma cena banal. Surpreendente é imaginar que a mesma planta possa ser comida por um dinossauro, ou que em volta dela voem as primeiras versões de abelhas que já existiram.

    Estamos falando de 100 milhões de anos atrás, em algum ponto das atuais América do Norte e Central.

    “Definir essa data de origem é importante para ligar todos os aspectos da evolução das borboletas, traçando um panorama completo”, celebra a evolucionista brasileira Mariana Braga, em estágio de pós-doutorado na Universidade Sueca de Ciências Agrárias, em Uppsala.

    Ela participou de um estudo, que classifica como altamente colaborativo, envolvendo uma centena de pesquisadores de 28 países sob a liderança do entomologista norte-americano Akito Kawahara, curador de borboletas e mariposas do Museu de História Natural da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. O trabalho foi publicado nesta segunda-feira (15/5) na revista Nature Ecology & Evolution.

    Para reconstruir essa história da origem, da dispersão pelo mundo, diversificação e evolução conjunta com plantas hospedeiras, o grupo de pesquisadores sequenciou quase 400 genes de cerca de 2.300 espécies de borboletas, representando 92% dos gêneros já descritos, e analisou informações sobre centenas de publicações. O resultado foi compilado em um grande banco de dados de acesso público.

    O amplo sequenciamento empreendido no projeto permitiu a construção de uma filogenia – ou árvore genealógica de espécies – que organizou os parentescos entre as borboletas. Foi a realização de um sonho de infância para Kawahara.

    “Quando eu tinha por volta de 10 anos, meu pai me levava ao Museu Americano de História Natural em Nova York, onde morávamos”, contou a Pesquisa FAPESP. Ao se associarem como frequentadores assíduos, pai e filho ganharam o direito a uma visita ao território de pesquisa no quinto andar, vedado a visitantes, um reino mágico com escadas estreitas e armários cheios de animais preservados para estudo.

    Lá ele viu um painel com uma árvore filogenética de borboletas repleta de pontos de interrogação e linhas pontilhadas. “Eram marcações do que não se sabia”, explica ele, que ficou fascinado com a ideia de aprender tudo sobre borboletas e preencher as lacunas. “Agora, consegui financiamento para fazer exatamente isso.

    ” A conquista é também uma homenagem ao pai, que, antes de morrer alguns anos atrás, teve tempo de perguntar sobre a pesquisa do filho e ficar sabendo que ele estava desvendando a origem dos insetos que povoaram sua infância.

    Um desafio do trabalho de Kawahara é obter datas que correspondam à filogenia. A estimativa de tempo costuma ser ancorada em fósseis, que são raros para borboletas – os adultos são delicados e as larvas muito pouco sólidas.

    Foi necessário tirar a informação possível de apenas 11 fósseis e alicerçar os dados com muito sequenciamento, modelos estatísticos robustos, informação abundante levantada em outros estudos, distribuições geográficas a partir de publicações e coleções entomológicas. Quatro supercomputadores trabalharam para isso, três nos Estados Unidos e um na Alemanha.

    Os resultados indicam que, a partir de uma ancestral mariposa, as borboletas começaram a voar durante o dia e migraram para a Ásia pelo estreito de Bering, depois se espalharam para o sul chegando até a atual Índia, que à época (entre 75 e 60 milhões de anos atrás) era uma ilha distante de qualquer lugar.

    O sudeste da Ásia se tornou o maior centro de diversidade de borboletas por volta de 45 milhões de anos atrás, quando também se disseminaram pela África. Nos últimos 30 milhões de anos, o maior centro de diversidade desses insetos é a América do Sul e Central, onde sempre existiram e as espécies foram se acumulando.

    “As borboletas precisam de bons habitats e plantas, foram seguindo os recursos e temos uma boa ideia do que elas comiam”, explica Kawahara. “Áreas frias não são ideais.”

    Algumas espécies avançaram na colonização de novas áreas relativamente rápido, em uma escala geológica do tempo, outras passaram milhões de anos no mesmo lugar.

    O pesquisador explica que algumas borboletas têm uma grande capacidade migratória, conseguindo sobrevoar o mar por muitos quilômetros e aproveitando carona em jangadas de vegetação ou rajadas de vento.

    Outras, especializadas em topos de montanhas, ficam ilhadas em suas áreas. Algumas têm longas vidas que lhes permitem grandes viagens, outras são efêmeras.

    Essencial nessa ocupação do mundo foi a presença disseminada das leguminosas e dos capins, os hospedeiros mais comuns. Braga explica que a associação entre espécies de borboletas e de plantas que alimentam e abrigam as larvas em desenvolvimento é bastante específica.

    A borboleta precisa encontrar a planta exata para depositar seus ovos, uma relação coevolutiva que se mantém por milhões de anos. Para inferir as hospedeiras ao longo dessa extensa história, é preciso estabelecer os modelos evolutivos mais prováveis e confiar em dados abundantes e bem colhidos.

    Se duas espécies irmãs usam um hospedeiro, é provável que sua ancestral também usasse. E assim, a partir do mapeamento das características atuais sobre a filogenia, é possível chegar a hipóteses razoáveis dos hábitos pré-históricos.

    Durante o doutorado na Universidade de Estocolmo, na Suécia, Braga testou a teoria de que a variedade de hospedeiros era importante para a diversificação e a expansão geográfica desses animais. Para isso, desenvolveu uma forma de analisar uma família completa de borboletas junto com todas as espécies de plantas hospedeiras. “Esse método é meu cartão de visita e foi por isso que Akito me procurou em 2020, quando comecei a trabalhar nesse projeto.”

    Mesmo assim, a imensidão do volume de dados não parecia permitir que as análises fossem feitas em tempo hábil. “As mais de 1,3 mil espécies de borboletas para as quais temos dados sobre as plantas hospedeiras se relacionam com 200 famílias de plantas”, conta.

    Se a análise funcionasse, levaria meses pelo volume de dados. Mas ela encontrou uma forma de agrupar plantas que tendem a estar juntas nas relações com borboletas, um método que descreveu em 2021 em artigo publicado na revista Ecology Letters. Chegando a 13 grupos, foi possível dar ordem aos dados.

    O grupo uniu a análise estatística dos dados genéticos às informações levantadas em mais de 30 mil registros de uso de plantas hospedeiras por lagartas e verificou que dois terços das espécies atuais de borboletas se alimentam de uma única família vegetal, enquanto menos de um terço é generalista e recorre a duas ou mais famílias. As que têm preferência por capins e leguminosas tendem a recusar outras alternativas.

    Essas famílias de plantas existem no mundo todo, em todos os ambientes e não costumam produzir defesas químicas fortes contra herbívoros, permitindo relações íntimas que vêm durando milhões de anos.

    “Estamos chegando a um ponto em que podemos ter bastante segurança em relação à idade das borboletas”, comemora o biólogo André Lucci Freitas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2019 ele participou de um estudo liderado pelo ecólogo Nicolas Chazot, à época na Universidade de Lund, na Suécia, em que analisaram cerca de 10 trechos do DNA de quase mil espécies de borboletas, além de 12 fósseis.

    Os resultados, publicados na revista Systematic Biology, também apontaram uma origem há cerca de 100 milhões de anos. “Com essa grande quantidade de dados disponível agora, é possível fazer outros trabalhos”, afirma.

    Ele também celebra a percepção, que se revela na superioridade em termos de variedade de borboletas, de que a América do Sul é “fantástica para a biodiversidade". É um continente com grande área tropical que tem ambientes tão diversos quanto a floresta amazônica e o topo da cordilheira dos Andes.

    Kawahara se declara preocupado com os declínios de populações de insetos em consequência das mudanças no clima. “Nosso trabalho é importante para ajudar a entender como isso acontece.” Freitas lembra que esse conhecimento é essencial para a preservação do ambiente e dos serviços ecossistêmicos fornecidos pelos biomas, o que acaba influenciando o bem-estar de todos os organismos.

    Fonte: Um só planeta

    Quando muda de concha, caranguejo leva sua anêmona-hóspede com ele

                                                       
    Quando muda de concha, caranguejo leva sua anêmona-hóspede com ele
    *A anêmona calcífera com seu hospedeiro caranguejo eremita. Fotografia: Akihiro Yoshikawa


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    Hibernação de ursos traz luz sobre produção de coágulos sanguíneos em humanos

                                                               
    Hibernação de ursos traz luz sobre produção de coágulos sanguíneos em humanos
    Foto: Ole Frobert e Tobias Petzold
                   

    Água-viva rara pode ser de uma nova espécie

    Água-viva rara - Incrível criatura vista depois de 25 anos pode ser de uma nova espécie

                                         

    “Dragão de Prata” - Simplesmente o 'maior encontro das águas do mundo'

    O “Dragão de Prata” é simplesmente o 'maior encontro das águas do mundo'
                                                                   

    Medusa imortal - Genes poderiam reverter envelhecimento humano?

    Medusa imortal - Seus genes poderiam reverter o envelhecimento humano?
                                                              
    Cientistas realizaram uma comparação de DNA de duas espécies similares de medusas e encontraram em uma delas genes que poderiam parar e reverter o envelhecimento.

    A espécie imortal de medusa tem cópias duplas de genes que protegem e reparam o DNA. A descoberta poderia fornecer pistas sobre o envelhecimento humano e as condições relacionadas à idade.

                              



    As medusas passam por duas fases de desenvolvimento: Na primeira, elas começam suas vidas como larvas à deriva, ou eventualmente se prendem ao fundo do mar e se desenvolvem em pólipos semelhantes a brotos. Nesta fase, elas podem se regenerar quantas vezes forem necessárias.

    Na segunda fase, elas se multiplicam, formando colônias que se desprendem em forma de guarda-chuvas com nadadeiras livres e são consideradas adultas.

    Essa etapa é definitiva para a maioria das medusas - mas a medusa imortal (Turritopsis dohrnii) pode reverter o ciclo.

    Quando os tempos ficam difíceis, como em ambientes agressivos ou após ferimentos, elas derretem seus corpos, recolocam-se no fundo do mar e regressam aos pólipos. Eles podem reiniciar o ciclo indefinidamente para contornar a morte e a velhice.

    Para descobrir como esta água-viva consegue se imortalizar, Maria Pascual-Torner da Universidade de Oviedo na Espanha e seus colegas sequenciaram seu genoma - o conjunto completo de instruções genéticas - e o compararam com seu parente mais próximo, a água-viva carmesim ou (Turritopsis rubra).

    Eles descobriram que a água-viva imortal tinha o dobro de cópias de genes associados à reparação e proteção do DNA.

    Estas duplicatas podiam produzir maiores quantidades de proteínas protetoras e restauradoras.

    Então, para identificar como a água-viva reverte sua forma adulta para a forma de pólipo, os cientistas analisaram quais genes estavam ativos durante esta metamorfose reversa.

    Eles descobriram que elas silenciam os genes de desenvolvimento para voltar as células a um estado primário e ativam outros genes que permitem que estas células se reestruturem uma vez que um novo ciclo é iniciado. Juntas, estas alterações genéticas protegem o animal do desgaste do tempo.

    Segundo a cientista, os genes que eles identificaram podem ser relevantes para reverter o envelhecimento humano.

    Eles poderiam inspirar a medicina regenerativa ou fornecer informações sobre doenças relacionadas ao envelhecimento, como câncer e neurodegeneração.

    "O próximo passo, diz ela, é explorar estas variantes gênicas em ratos ou em humanos".

    Cientistas descobrem sistema de anéis inusitado no Sistema Solar

    Esta descoberta força um repensar sobre as teorias da formação de anéis.
                              
    Cientistas descobrem sistema de anéis inusitado no Sistema Solar
    Foto: Ufrj/ESA, CC BY-SA 3.0 IGO

    Cientistas descobriram um novo sistema de anéis em torno de um planeta anão na borda do Sistema Solar orbitando muito mais longe do que é típico para outros sistemas, questionando as teorias atuais de como os sistemas de anéis são formados.

    O planeta anão chama-se Quaoar, que tem aproximadamente metade do tamanho de Plutão e orbita o Sol além de Netuno.

    A descoberta,
    liderada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicada na Nature, foi feita por uma equipe internacional de astrônomos usando HyPERCAM - uma câmera de alta velocidade extremamente sensível desenvolvida por cientistas da Universidade de Sheffield que está montada no maior telescópio óptico do mundo, o Gran Telescopio de 10,4 metros de diâmetro. Canárias (GTC) em La Palma.

    Os anéis são muito pequenos e fracos para serem vistos diretamente em uma imagem comum. Em vez disso, os pesquisadores fizeram sua descoberta observando uma ocultação, quando a luz de uma estrela de fundo foi bloqueada por Quaoar enquanto orbitava o Sol. O evento durou menos de um minuto, mas foi inesperadamente precedido e seguido por duas quedas de luz, indicativas de um sistema de anéis ao redor de Quaoar.

    Os sistemas de anéis são relativamente raros no Sistema Solar - assim como os conhecidos anéis ao redor dos planetas gigantes Saturno, Júpiter, Urano e Netuno, apenas dois outros planetas menores possuem anéis - Chariklo e Haumea. Todos os sistemas de anéis conhecidos anteriormente são capazes de sobreviver porque orbitam perto do corpo pai, de modo que as forças de maré impedem que o material do anel se acumule e forme luas.

    O que torna notável o sistema de anéis em torno de Quaoar é que ele se encontra a uma distância de mais de sete raios planetários - duas vezes mais longe do que se pensava anteriormente ser o raio máximo de acordo com o chamado "limite de Roche", que é o limite externo de onde se pensava que os sistemas de anéis seriam capazes de sobreviver.

    Para comparação, os anéis principais ao redor de Saturno estão dentro de três raios planetários. Esta descoberta, portanto, forçou um repensar sobre as teorias da formação de anéis.

    O professor Vik Dhillon, co-autor do estudo do Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Sheffield, disse: "Foi inesperado descobrir este novo sistema de anéis em nosso Sistema Solar, e foi duplamente inesperado encontrar anéis tão distantes. de Quaoar, desafiando nossas noções anteriores de como esses anéis se formam. O uso de nossa câmera de alta velocidade - HyPERCAM - foi fundamental para essa descoberta, pois o evento durou menos de um minuto e os anéis são muito pequenos e fracos para serem vistos em uma imagem direta.

    “Todo mundo aprende sobre os magníficos anéis de Saturno quando é criança, então esperamos que essa nova descoberta forneça mais informações sobre como eles surgiram”.

    O estudo envolveu 59 acadêmicos de todo o mundo, liderado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro no Brasil. A pesquisa foi parcialmente financiada pelo Conselho de Instalações de Ciência e Tecnologia (STFC) e incluiu seis universidades do Reino Unido - Sheffield, Edimburgo, St Andrews, Warwick, Birmingham e a Open University.

    Fonte: Science Daily

    Peixe-Jacaré - Cientistas usam DNA de jacaré e criam peixes resistentes à doenças

    Difícil produção em larga escala e preocupações éticas causam incerteza em torno da aprovação desses peixes transgênicos.
                             
    Peixe-Jacaré - Cientistas usam DNA de jacaré e criam peixes resistentes à doenças

    Uma equipe de cientistas inseriu um gene de jacaré no genoma do bagre. O gene do jacaré chamado catelicidina é um gene antimicrobiano que desempenha um papel na resposta imune inata do animal, fornecendo defesa contra vários patógenos, incluindo bactérias e vírus.

    Os pesquisadores inseriram o gene na parte do genoma do peixe-gato que codifica um hormônio reprodutivo essencial. Os híbridos produzidos apresentaram maior resistência a doenças e esterilidade.

    Híbridos mais saudáveis e estéreis

                            
    Peixe-Jacaré - Cientistas usam DNA de jacaré e criam peixes resistentes à doenças

    A aquicultura não apenas contribui para as mudanças climáticas, mas também sofre com seus impactos. O peixe-gato compreende mais de 50% da demanda de peixes criados em fazendas nos Estados Unidos; no entanto, quase 45 por cento da população total não sobrevive após a fase de alevino, ameaçando o meio ambiente e a sustentabilidade da indústria.

    O bagre não é apenas altamente suscetível a infecções bacterianas e estresses abióticos, mas também desenvolveu resistência a antibióticos. Os cientistas estão tentando dar a esses peixes de água doce uma vantagem contra as circunstâncias, infundindo-lhes um gene de jacarés que combate doenças.

    O sistema *CRISPR revolucionou a modificação de genes, tornando a edição de genes mais precisa, eficiente e acessível. A equipe liderada por Rex Dunham e Baofeng Su da Auburn University, Alabama, usou Cas9 – uma das enzimas produzidas pelo sistema CRISPR – para integrar o gene da catelicidina de jacarés no DNA do peixe-gato.

    A taxa de sobrevivência dos peixes transgênicos catelicidina é 100-400 por cento maior do que seus equivalentes nativos. A esterilidade desses híbridos ajuda a evitar seu impacto nos ecossistemas e "impedir o estabelecimento de genótipos transgênicos ou domésticos no ambiente natural", diz a equipe.

    O uso de CRISPR também lança dúvidas sobre a viabilidade da técnica, pois pode ser "muito difícil produzir o suficiente desses peixes para obter uma linha viável e geneticamente saudável", diz Greg Lutz, especialista em genética de aquicultura da Louisiana State University.

    Também há incerteza em torno da aprovação desses peixes transgênicos para consumo humano devido às preocupações éticas em torno da modificação genética e ao potencial de consequências não intencionais ao usar o CRISPR. Por fim, embora os pesquisadores afirmem que "comeriam em um piscar de olhos", a aceitação pública do peixe híbrido jacaré é um desafio inevitável.

    A pesquisa ainda não foi revisada por pares e está disponível como uma pré-impressão no bioRxiv.

    *CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats)
    Fonte: Interesting Engineering
    Imagens: Borislav/iStock/Unsplash


    Aumento de Salpa Maggiore na superfície dos oceanos preocupa cientistas

    Embora seja fascinante encontrar este peixe transparente na superfície, não deveria se tornar comum.  

                                

    Aumento de Salpa Maggiore na superfície dos oceanos preocupa cientistas

    Nos últimos anos, houve um aumento de salpas aparecendo na superfície. Isso tem sido visto de forma preocupante pelos cientistas, já que seu ecossistema natural é o seu lugar mais seguro.

    Uma salpa maggiore, um dos animais mais exóticos da vida oceânica, foi vista na superfície, perto da costa da Nova Zelândia, quando chamou a atenção de um pescador, pois a estranha criatura flutuando era diferente de tudo que ele já havia visto antes. Quando encontradas, as espécies tendem a ser inofensivas, por isso, são facilmente capturadas.

    Houve vários outros avistamentos da salpa maggiore, tanto nos mares frios quanto nas áreas equatoriais do oceano.

    Embora seja fascinante para quem encontra este peixe transparente na superfície, não deveria se tornar comum, pois essas criaturas tendem a ficar mais próximas das profundezas do mar, onde se alimentam e se reproduzem.

    Peixe ou água-viva?

                              
    Aumento de Salpa Maggiore na superfície dos oceanos preocupa cientistas

    Embora escamosa como outros peixes, esta criatura é única no fato de ser transparente, como as águas-vivas. A única cor em seu corpo é uma mancha laranja (seu sistema digestivo) que se destaca.

    Esta é, obviamente, uma característica que a água-viva compartilha com a transparente salpa maggiore. No entanto, ela é mais uma combinação de camarão e peixe.

    De acordo com o pesquisador Alvaro Esteves Migotto, do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), trata-se de um animal conhecido informalmente como “salpa”, da classe Thaliacea.

    “Esses bichos não têm nomes populares por aqui. Os biólogos se referem a eles de forma genérica como ‘salpas'”. “Salpa” é o nome que identifica um gênero de animais dentro desse grupo, mas a nomenclatura acaba sendo utilizada para se referir ao grupo todo,” explica Migotto.

    Ela nada bombeando água pelo corpo onde pode deslizar pela superfície quase camuflada, graças à sua natureza transparente.

    Enquanto a água passa pelo seu corpo, essas criaturas vasculham o conteúdo e extraem algas e fitoplâncton e quando a comida é abundante, elas têm a capacidade de se clonar, o que é uma característica incrível para essa espécie aquática.

    Elas começam a se replicar em cadeia graças à sua natureza assexuada e, à medida que a cadeia cresce, elas se comunicam através de correntes elétricas, o que faz com que seus movimentos sejam sincronizados, sendo capazes de juntar-se em filas de mais de um quilômetro.

    Equilíbrio para as profundezas

                                   
    Aumento de Salpa Maggiore na superfície dos oceanos preocupa cientistas


    É importante notar que a reprodução e o número desta espécie é sempre mantido em linha com os níveis de fitoplâncton que os rodeiam. Quando há um aumento na população, crescem rapidamente, mas quando os níveis voltam ao normal, o excesso de salpa maggiore começa a morrer. Isso garante que um equilíbrio natural seja mantido nas profundezas do oceano.
    E além disso podem absorver cerca de 4.000 toneladas de CO2 por dia! Esta qualidade é muito relevante para o planeta já que poderiam inspirar alguma forma de reduzir o efeito estufa.

     
    Não há como negar que a salpa maggiore é uma das criaturas mais fascinantes encontradas no oceano. Com seu corpo único e estilo de natação, ela captura a imaginação e fascina pela abordagem única que adota quando desliza pelas águas do oceano.

    Fonte: Natural-Swimmer

    Cometa que se aproxima da Terra será visível a partir de fevereiro

     

    Cometa se aproxima da Terra
    Créditos: NASA

    EBC - Um visitante que a cada 50 mil anos frequenta o céu do planeta Terra teve, neste 12 de janeiro, seu ponto de maior proximidade com o Sol e, a partir do início de fevereiro, ficará visível no hemisfério sul. Trata-se do cometa C/2022 E3.


    O cometa foi detectado pelo programa Zwicky Transient Facility (ZTF) em março de 2022, quando passava pela órbita de Júpiter. A observação foi feita por meio do telescópio Samuel-Oschin, no Observatório Palomar, na Califórnia (EUA).


    Segundo o Observatório Nacional, o ponto de maior aproximação desse cometa “relativamente pequeno” - cerca de 1 km de diâmetro - com a Terra será em 1º de fevereiro.


    Cometas são objetos feitos principalmente de gases congelados, rocha e poeira, e se tornam mais visíveis quando se aproximam do sol, e seu gelo passa a se transformar em gás, formando uma nuvem ao seu redor.


    Da última vez que o C/2022 E3 ficou visível, a Terra ainda era habitada pelos neandertais, conforme disse o astrônomo Filipe Monteiro, tendo por base o período orbital desse corpo celeste que, acredita-se, tem como origem a Nuvem de Oort – uma das regiões mais distantes do nosso sistema solar.


    “Algumas previsões sugerem que a órbita deste cometa é tão excêntrica que não está mais em órbita do Sol. Se for assim, então ele não retornará e simplesmente continuará indo embora”, informou, por meio de nota, o Observatório Nacional.


    Como observar


    A observação começará a ser facilitada nos primeiros dias de fevereiro, “com uma melhor altura de observação a partir do dia 4 de fevereiro na direção norte e abaixo da estrela Capela”, explica Monteiro.


    Com o passar dos dias, o cometa será visto mais alto no céu e com mais tempo de visibilidade. Em sua aproximação máxima, o corpo celeste estará a cerca de 42 milhões de quilômetros da Terra.


    O cometa poderá ser visto a olho nu apenas se as condições do céu forem bastante favoráveis, ou seja, com o céu escuro, sem Lua, e sem poluição luminosa. Esse poderá ser o primeiro cometa do ano visto a olho nu, e o primeiro após o cometa Neowise, que apareceu em 2020.


    “Para observar o cometa, o mais sensato é usar binóculos, que facilitarão a observação desse visitante ilustre. Além disso, é importante destacar que não é uma tarefa tão fácil achar um cometa no céu. Por isso, além de instrumentos (binóculos, telescópios, câmeras fotográficas), é interessante que as pessoas procurem um lugar distante dos centros urbanos, fugindo assim da poluição luminosa. Para facilitar ainda mais a observação do cometa, o indicado é procurar pelo cometa quando a lua não estiver mais no céu”, explica Monteiro.


    Para observadores iniciantes, ele sugere que como data ideal o dia 10 de fevereiro, entre 19h e 21h, quando o cometa irá se encontrar muito próximo do planeta Marte.


    “Uma estratégia que pode ser usada também por iniciantes, bem como os fotógrafos casuais, é tentar fotografar o cometa apontando sua câmera para sua localização aproximada no céu e tirando fotos de longa exposição de 20 a 30 segundos”, disse


    “Ao visualizar as imagens, possivelmente você notará um objeto difuso e com cauda. Usando essa técnica, muitos estão conseguindo fotografar o cometa mesmo que não o veja no céu”, disse.




    Designer italiano transforma Kombi clássica em barco

     

    Reprodução/Instagram @floatingmotors

    O designer italiano Pierpaolo Lazzarini, resolveu transformar carros clássicos em barcos de luxo e transformou uma Kombi em um barco

     

    O projeto, Floating Motors, visa readaptar carros clássicos e transformá-los em veículos aquáticos funcionais. 

     


    Reprodução/Instagram @floatingmotors

      

    Segundo a reportagem do site My Modern Met, esses "descansos flutuantes” – como a empresa os chama – são clones complexos de designs de carros clássicos fabricados em fibra de vidro ou fibra de carbono. Essas réplicas são então adaptadas com um casco flutuante e um motor para fazer o veículo náutico perfeito para trabalho ou lazer.


    “Respeitamos rigorosamente as proporções e tamanhos dos modelos originais de carros, aplicando as mais modernas técnicas náuticas para o casco flutuante (catamarã, convencional ou foil), e entregando uma qualidade excepcional em materiais de construção e tecnologia aplicada, para maior durabilidade em condições adversas, ” garante a empresa. “Nossos produtos são barcos a motor de luxo, com a forma de carros míticos.”

     

    Reprodução/Instagram @floatingmotors

     

     

    Alguns dos outros modelos oferecidos pela empresa, incluem um conversível de dois lugares chamado La Dolce e um MINI que ostenta uma pintura Union Jack (bandeira do Reino Unido). 


    Perfeito para a vida na água, a kombi poderia ser praticamente uma casa flutuante quando comparado aos tamanhos menores de alguns dos outros projetos. 

    E mesmo que você não queira viver na água em sua casa-barco, ainda assim seria perfeito para um dia épico - completo com natação, descanso no deck de madeira e ainda fazer uma delicioso almoço com todas as comodidades do interior.

     

    Reprodução/Instagram @floatingmotors

      

    Então parece que a vida em uma kombi náutica é um conceito bem legal e pode se tornar realidade em um futuro próximo. 

     

    Reprodução/Instagram @floatingmotors




    Fonte: My Modern Met

     

    Mamífero que não envelhece pode ser a chave para a cura do câncer

    Imunes às dores e ao envelhecimento, essas criaturas de aparência estranha vêm fascinando os cientistas há muito tempo.

     



    BBC - Pesquisas sobre o mamífero, rato-toupeira-pelado, estão revelando que eles podem deter a chave para entender uma série de condições humanas, como o câncer e o envelhecimento.

    Ele tem uma série de características extraordinárias que vêm chamando a atenção de zoólogos e pesquisadores da medicina em todo o mundo.

    Apesar do seu pequeno tamanho (que varia de 7,6 a 33 cm), ele vive, em média, 30 anos. O roedor é resistente a doenças crônicas, incluindo diabetes, e tem um notável sistema reprodutor.

    Eles também beneficiam o meio ambiente, agindo como "engenheiros do ecossistema" e aumentando a biodiversidade do solo ao cavar as tocas onde fazem seus ninhos.

     

    Imunes às dores e ao envelhecimento, essas criaturas de aparência estranha vêm fascinando os cientistas há muito tempo. 



    Historicamente, estudamos ratos e camundongos para entender os segredos da biologia humana. Mas os cientistas acreditam que o rato-toupeira-pelado tem vantagens especiais para a medicina.

     

    O nome científico da espécie - Heterocephalus glaber - significa essencialmente "coisa careca com cabeça diferente".

    O rato-toupeira-pelado é nativo dos ambientes quentes e tropicais do nordeste da África. No seu ambiente natural, eles vivem em grandes colônias subterrâneas, formando um labirinto de túneis e câmaras que se estende por uma área correspondente a diversos campos de futebol.

    As rígidas condições onde vivem os ratos-toupeiras-pelados, com baixos níveis de oxigênio, podem ser uma indicação de algumas das características incomuns da sua espécie.

    A maior parte da vida aeróbica enfrentaria dificuldades para sobreviver nesses ambientes com pouco oxigênio, mas o rato-toupeira-pelado é o animal que tem a vida mais longa entre os roedores.

    Enquanto um camundongo de porte similar pode viver por dois anos, o rato-toupeira-pelado atinge 30 anos de vida ou mais. Se calcularmos em proporção ao tamanho dos seres humanos, aproximadamente, seria como se nós tivéssemos um primo enrugado capaz de viver até 450 anos.

    Animais sociais chefiados por uma 'rainha'

     

     

    O rato-toupeira-pelado é encontrado nas áreas selvagens do Quênia, Etiópia e da Somália. Ele vive em colônias com cerca de 70 a 80 membros. Algumas chegam a abrigar até 300 indivíduos.

    São animais altamente sociais. Suas colônias são chefiadas por uma rainha e seguem uma hierarquia rígida.

    Seus membros desempenham diferentes funções. Existem, por exemplo, os que trazem as partes subterrâneas das plantas, como bulbos, raízes e tubérculos que eles comem, além de fezes.

    A biologia da espécie é incrivelmente única. Os ratos-toupeiras-pelados são considerados "extremófilos", ou seja, eles conseguem sobreviver em ambientes extremos embaixo da terra, segundo o pesquisador Ewan St. John Smith, que estuda o sistema nervoso sensorial na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

    Uma das suas características mais marcantes é que é difícil dizer exatamente a idade de um rato-toupeira-pelado, pois seus sinais de declínio físico são limitados.

    Enquanto os seres humanos podem ficar cada vez mais enrugados, grisalhos ou suscetíveis a doenças crônicas, "os sinais comuns de envelhecimento esperados na maioria dos mamíferos realmente não parecem acontecer" nesses roedores, segundo Smith. Sua função cardíaca, composição do corpo, qualidade dos ossos ou metabolismo não sofrem mudanças significativas.

     


    Na Universidade de Cambridge, a equipe de Smith mantém cinco colônias, que abrigam cerca de 160 ratos-toupeiras-pelados em uma sala aquecida a cerca de 30 °C e umidade de 60%.

    "Mantenho meus animais em Cambridge há 10 anos e nunca tive um sequer que morresse simplesmente por causas naturais", afirma Smith. Ele conta que, em cativeiro, as brigas entre os roedores costumam ser a principal causa de morte.

    Seu estilo de vida subterrâneo pode aumentar suas chances de sobrevivência, protegendo as colônias contra o frio, a chuva e os extremos climáticos. No ambiente selvagem, a principal causa de morte são seus predadores, como as cobras.

    É um quadro muito diferente das causas comuns de morte em seres humanos. "Um em cada dois humanos provavelmente terá câncer", segundo Smith. "Os ratos e os camundongos têm probabilidade similar de desenvolver câncer, mas os ratos-toupeiras-pelados quase nunca têm a doença - é muito raro."

    O motivo por que o rato-toupeira-pelado escapa do câncer ainda é um mistério. Inúmeras hipóteses foram apresentadas ao longo dos anos e os cientistas lutam para fornecer uma explicação consistente.

    Uma teoria diz que os ratos-toupeiras-pelados têm uma forma particularmente eficaz de mecanismo anticâncer chamada senescência celular - uma adaptação evolutiva que evita que as células lesionadas se dividam fora de controle e desenvolvam câncer. Outra teoria sugere que esses roedores secretam um "superaçúcar" complexo que impede que as células se aglomerem e formem tumores.

    As pesquisas mais recentes concentram-se em condições próprias dos seus corpos que impedem a multiplicação das células cancerosas. Especialistas da Universidade de Cambridge indicam que interações com o microambiente interno do rato-toupeira-pelado - o complexo sistema de células e moléculas em volta de uma célula, incluindo o sistema imunológico - evitam a doença e não um mecanismo inerente resistente ao câncer.

    Em um experimento na Universidade de Cambridge, pesquisadores analisaram 79 linhagens celulares diferentes, cultivadas em tecidos do intestino, rim, pâncreas, pulmão e pele de 11 ratos-toupeiras-pelados individuais. Os pesquisadores infectaram as células com vírus modificados para introduzir genes causadores do câncer.

    Para sua surpresa, as células dos ratos-toupeiras-pelados infectados começaram a multiplicar-se rapidamente. Isso confirmou que é o ambiente do corpo do roedor que evita o desenvolvimento do câncer e não uma característica em nível celular.

    A questão pode ainda estar sem resposta, mas o que sabemos é que "o câncer é fundamentalmente o resultado de uma mutação, que causa a proliferação das células de forma descontrolada", afirma Smith. "Em comparação com outras espécies, o rato-toupeira-pelado tem velocidade de mutação muito baixa."

    Animais com períodos de vida mais curtos tipicamente têm velocidades de mutação mais altas. Mas, inesperadamente, as velocidades de mutação dos ratos-toupeiras-pelados são similares às dos mamíferos de vida mais longa, como as girafas. E velocidade de mutação mais baixa significa que o animal é menos propenso a desenvolver mutações e câncer em um dado período de tempo.

    Mas a característica mais estranha do rato-toupeira-pelado talvez seja sua insensibilidade à dor. "Provavelmente, é o resultado de uma adaptação evolutiva ao [seu] ambiente com alto nível de dióxido de carbono", explica Smith.

    O ar que esses roedores respiram é mais rico em CO2 que o ar da atmosfera. Se esse ar exalado ficar preso em túneis subterrâneos, o teor de CO2 se acumula.

    Para a maioria dos mamíferos, este seria um problema. "O dióxido de carbono reage com água para formar um ácido, chamado ácido carbônico, que pode ativar os nervos para causar dor", afirma o pesquisador.

    Em muitas doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide, as áreas de inchaço dos tecidos, muitas vezes, podem ficar ácidas e causar dor. Mas "o rato-toupeira-pelado não sente o ácido como algo doloroso, não da forma que o suco de limão ou vinagre espalhado sobre cortes da pele causa dor", explica Smith.

    Ele estudou a base molecular para essa tolerância e identificou um gene que faz com que o ácido aja como anestésico, em vez de ativador dos nervos sensoriais do rato-toupeira-pelado.

    A professora de fisiologia e metabolismo Gisela Helfer, da Universidade de Bradford, no Reino Unido, afirma que o rato-toupeira-pelado é também o "modelo perfeito" para estudar a puberdade humana.

    O rato-toupeira-pelado e o rato-toupeira-da-damaralândia são os dois únicos exemplos de mamíferos eussociais, que vivem em colônias por gerações seguidas, com uma fêmea responsável pela procriação e os demais indivíduos trabalhando juntos para sustentar a ninhada.

    Como as abelhas, sua poderosa rainha governa a colônia de ratos-toupeiras, acasalando com um a três machos de cada vez. Outros indivíduos desempenham diferentes papéis, como os trabalhadores que cavam as tocas da colônia com seus dentes salientes e reúnem forragem para servir de alimento, fornecendo à rainha as raízes e bulbos que ela irá comer.

    Normalmente, existe um casal fértil por colônia e o restante dos animais não passa pela puberdade, segundo Helfer. Mas, se um rato-toupeira-pelado for retirado da sua colônia, ele começará rapidamente a produzir esteroides sexuais e o animal passa pela puberdade.

    "Os seres humanos têm uma longa fase pré-puberdade de cerca de oito a 12 anos", explica ela. "Quando a criança entra na puberdade, hormônios são liberados no seu cérebro e levam à produção dos hormônios sexuais, permitindo o amadurecimento do aparelho reprodutor."

    Este processo espelha a progressão da puberdade entre os ratos-toupeiras-pelados, quando as fêmeas subordinadas são isoladas da rainha (a fêmea dominante) na colônia.

    Já os ratos e camundongos passam pela puberdade de forma particularmente rápida, em até duas semanas após o nascimento. Por isso, eles são um modelo ruim para estudar os hormônios sexuais.

    Helfer e outros cientistas estão examinando cada vez mais os ratos-toupeiras para investigar a influência dos hormônios sexuais, especialmente estrogênio e testosterona, além dos cromossomos sexuais.

    Esta informação pode lançar uma luz sobre os tratamentos médicos, como bloqueadores da puberdade, terapia de substituição hormonal, fertilização in vitro e tratamento da menopausa - questões que, segundo Helfer, "estão na linha de frente da saúde no momento".

    'Incrível inteligência' e 'hábitos malucos'

    Helfer acha fascinantes os ratos-toupeiras-pelados que ela mantém na Universidade de Bradford, devido à sua "incrível inteligência" e a alguns hábitos "malucos".

    Ela conta que, dentro das suas colônias altamente organizadas, os roedores têm câmaras de nidificação para dormir e banheiros para manter seus habitats limpos. E, quando os filhotes nasceram, ela ficou surpresa ao ver que a colônia havia criado uma "creche", para cuidar dos jovens animais.

    Eles também "se movem para frente e para trás com a mesma rapidez" e raramente usam seus pequenos olhos redondos, preferindo confiar nos seus bigodes sensoriais para orientar-se embaixo da terra, segundo explica a professora.

    Os ratos-toupeiras-pelados também têm formas características de comunicação entre si, determinando quem é amigo ou estranho por meio de diversos dialetos, de forma muito similar aos seres humanos.

    Seu "chilro" clássico transmite informações exclusivas do grupo do animal. Um estudo indica que ele é aprendido culturalmente, não pela genética. Os ruídos referem-se frequentemente à rainha e filhotes resultantes de cruzamento adotam o tom da colônia que os criou, que pode mudar em caso de substituição da rainha.

    Um estudo mapeou 18 vocalizações diferentes, incluindo chamados de alarme, de solicitação de alimento, de acasalamento e de organização do banheiro. Quando os predadores se aproximam, os animais usam diversos chamados de alarme diferentes para defender a colônia.

    Outra forma de cooperação entre os ratos-toupeiras-pelados como colônia é por meio da agricultura sustentável.

    Os horários das refeições envolvem trazer para suas tocas grandes tubérculos, como batatas-doces, para que sejam roídos com outros membros da colônia. Cada refeição pesa até 50 kg.

    Os ratos-toupeiras removem as camadas externas venenosas da planta, comem sua refeição e preenchem a parte consumida com solo, para que o tubérculo se regenere, tornando-se outra refeição posteriormente.

    De fato, sua comunicação complexa, vida longa, coesão social e administração cuidadosa dos recursos alimentícios fazem com que os ratos-toupeiras-pelados demonstrem fortes sinais de alta inteligência.

    E essas criaturas exibem outras características notáveis. As pesquisas são limitadas, mas, na África do Sul, o rato-toupeira comum e o rato-toupeira-do-cabo receberam o título de "engenheiros do ecossistema".

    Na Reserva de Flores Wayland em Darling, a cerca de 60 km ao norte da Cidade do Cabo, encontra-se um dos melhores locais do mundo para a biodiversidade, repleto de flores silvestres, abelhas e outros insetos.

    Como parte do seu pós-doutorado na Universidade de Pretória, na África do Sul, Nicole Hagenah estudou o papel desempenhado por duas espécies diferentes de ratos-toupeiras - o comum e o rato-toupeira-do-cabo - para ajudar a melhorar os solos ricos e férteis da região.

    Seu estudo durou três anos e ela concluiu que, ao escavar seus túneis, as duas espécies de ratos-toupeiras descartavam o solo escavado, depositando-o na forma de montes sobre a superfície.

    Esses montes continham níveis mais altos de nutrientes, especialmente nitrogênio, em comparação com o solo existente sobre a superfície.

    "Acreditamos que isso ocorre porque o solo subterrâneo que foi empurrado continha material vegetal não comido decomposto e, talvez, fezes e urina", afirma Hagenah. O solo dos montes também era menos compacto que o solo das proximidades.

    Portanto, os ratos-toupeiras comuns e do cabo ajudaram as plantas de duas formas.

    "Primeiro, as plantas precisam de nutrientes para crescer e um dos nutrientes mais importantes para as plantas é o nitrogênio", explica a pesquisadora. "Segundo, o monte menos compacto pode ter facilitado a penetração da água no solo, o que também é benéfico para as plantas, que precisam de água."

    A importância - e as dificuldades - dos estudos

    Por mais extraordinários que sejam os ratos-toupeiras-pelados, biologicamente falando, eles não são a espécie mais simples para observar e trabalhar, o que significa que relativamente poucos grupos de pesquisa em todo o mundo estudam esta espécie incrível.

    "Embora sua biologia extrema seja fascinante e forneça grandes conhecimentos, não é fácil para todos formar sua própria instalação de pesquisa para esta espécie", afirma Smith.

    Além da logística de reprodução de ambientes quentes e úmidos, o ciclo de vida de um rato-toupeira-pelado é mais longo que o dos ratos ou camundongos. Normalmente, leva 75 dias para o nascimento e existe apenas um casal se reproduzindo, o que resulta em longo tempo de espera para planejar experimentos.

    Por este motivo, Smith criou a Iniciativa do Rato-Toupeira-Pelado, para colaborar com especialistas em outros campos da medicina, como o tratamento do câncer, e usar seus animais para sustentar novas linhas de pesquisa.

    As colônias de ratos-toupeiras-pelados de Smith, se viverem sua idade natural completa, provavelmente ultrapassarão a carreira do pesquisador.

    "Poucas pessoas do mundo têm muitos ratos-toupeiras-pelados com mais de 30 anos de idade", afirma ele. "Os animais que nasceram nas minhas colônias na semana passada, por exemplo, só atingirão seu período de vida máximo depois que eu me aposentar."

    Se os cientistas conseguirem desvendar por que esses mamíferos extremófilos vivem uma vida saudável, eles poderão "traduzir" esse conhecimento em tratamentos preventivos ou medicações que tratem o câncer depois que ele surgir, segundo Smith. E pode também haver outros benefícios na pesquisa desses animais altamente incomuns, alguns dos quais dificilmente podem ser previstos.

    Smith usa como exemplo os testes de PCR para detectar covid-19.

    "A razão pela qual os testes de PCR funcionam é porque eles usam uma enzima que foi extraída de uma espécie de bactéria que vive nos respiradouros térmicos do Parque Yellowstone [nos Estados Unidos]", explica ele. "Viver em altas temperaturas significa que as enzimas da bactéria evoluíram para que ficassem estáveis sob altas temperaturas, quando as reações biológicas acontecem com mais rapidez."

    "Se não estudarmos a biologia em condições extremas, acabamos perdendo algumas coisas", conclui Smith.

     

    Essa reportagem foi originalmente publicada em - https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-64143834



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